sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Para quem não pode mais ver o Mestre Álvaro da janela do seu quarto

As cidades crescem e a posse de cada lugarzinho, de cada recanto que marcou histórias individuais, acabam mudando de mãos. Ou, pior, tornando-se logradouro público. Lembro de quando "desbravava" o mato para caçar calango na Pedra da Cebola. Hoje, vejo que se tornou ponto turístico. Neste mesmo matagal tinha uma pedreira, onde descíamos para pegar frutas em árvores mais inalcançáveis. O problema era subir a pedreira - e uma vez eu quase caí. Ainda nesse mesmo mato tinha um laguinho onde a gente pescava de caniço. Mais adiante tinha a Seidel, com um campinho de areia ao fundo.
No bairro, com pouco mais de 4 mil pessoas, um dos assuntos em pauta era o eterno clássico Butantã x Capelinha, times que dividiam Jardim da Penha geograficamente. A Avenida Dante Michelini ainda não tinha sido duplicada, o que nos fazia conviver com ressacas em Camburi, ondas que se chocavam violentamente na proteção de pedras colocada para evitar a erosão, onde hoje fica o Hotel Aruan. 
Tinha o Cine Paz e o Cine Glória e, em frente a este último, o melhor churrasquinho de espeto que já comi na vida - gosto sempre de lembrar.
É comum e muito nostálgico contabilizar memórias. A vida segue, a fila anda, deixamos de ser aquelas pessoas que habitavam um lugar que não mais existe, a não ser na memória. Se bem que este blog poderia ser dedicado à memória da cidade. Vale a pena falar, vale a pena registrar o que somente está presente na mente - e me desculpe a rima, mas era necessária para a precisão semântica.
Em cada cidade as novas gerações se apossam dos novos recantos e, daqui a alguns anos, vão estar contando histórias semelhantes, embora em outro contexto e sem aquele velho e delicioso bucolismo do passado.
Já não reconheço mais esta Cidade Sol com o céu sempre azul... mas este post é uma colaboração dada a uma grande amiga, que precisa dar expressão virtual aqui no blog a estas reminiscências, antes que elas se percam na turva névoa da memória.


“Vi coisas nas quais vocês nunca acreditariam. Naves de ataque em chamas perto da borda de Orion. Vi a luz do farol cintilar no escuro no Portal de Tannhaüser. E todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva. Hora de morrer...”
Ridley Scott

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